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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Carta da Comissária Varig Denise Diedrich para a Rede Bandeirantes e a Produção do Programa CQC - Custe o que Custar

À
Rede Bandeirantes e Produção do Programa CQC

Prezados Senhores

É com imensa alegria que escrevo aos Senhores, pois adoro o Programa Custe o Que Custar.

Não conseguia imaginar uma maneira de fazer com que parlamentares de nosso país se tornassem conscientes de suas ações (ou da sua falta de ação) e, principalmente, que se conscientizassem de que parte do povo brasileiro não é conivente com suas atitudes.

Já enviei diversos emails ao congressistas, mas recebo somente respostas atenciosas, sem qualquer menção às providências que porventura seriam tomadas para a resolução do nosso problema. Ou seja, a inação é total e irrestrita.

Porém, quando os repórteres do CQC entrevistam os políticos em Brasília, é realmente um gozo para mim poder observar a cara de ofendidos dos mesmos! Onde está a cara-de-pau deles nessa hora? O constrangimento é visível!

Por isso, assistir a esse programa, para mim, é poder lavar a alma diante de tanta podridão exposta por estes políticos brasileiros.

Sem falar na parte humorística, que realmente é muito divertida, com toda espontaneidade e criatividade manifestadas por vocês.

Assim, faço minhas as palavras de minha colega de infortúnio Geni Reschke, que já entrou em contato com os Senhores, para ver a possibilidade de viabilizar um programa "Proteste Já" sobre o "Caso Varig".

O "Caso Varig" é o caso do descaso do Governo Federal, o dito governo dos trabalhadores, para com estes mesmos trabalhadores. O Governo Federal permitiu que contribuições dos trabalhadores da Varig para o seu Fundo de Pensão fossem descontadas de seus contra-cheques sem, no entanto, terem sido repassadas pela Varig para referido Fundo. Ora, foram 20, 25 anos de contribuição para formação de suas aposentadorias. Mas, 21 repactuações da dívida da Varig para com o Fundo foram autorizadas pela Secretaria de Previdência Complementar, o órgão fiscalizador do Governo Federal, sem exigir qualquer contrapartida.

Em 2006, a Varig foi vendida e os empregados foram demitidos sem receber suas indenizações trabalhistas.

É o único caso de que tenho conhecimento no país, em que trabalhadores são demitidos sem receber a indenização a que tinham direito, e pior, sem qualquer manifestação da Justiça do Trabalho, onde os processos não andam, pelo menos aqui no Rio de Janeiro.

Desde 2006 os aposentados e pensionistas do Aerus vêem seus benefícios diminuirem a cada mês. Alguns estão recebendo R$ 7,00 por mês, em troca de suas contribuições ao referido Fundo.

Existe uma ação da Varig contra o Governo Federal que, finalmente, depois de aproximadamente 15 anos, chegou ao Supremo Tribunal Federal. Trata-se de uma ação por perdas tarifárias da época do congelamento de preços de um dos tantos planos de salvação da moeda, se não me engano era o Plano Cruzado. Nessa época, a Varig tinha despesas em dólar, o qual aumentava diariamente no nosso país, e recebia o pagamento pelos serviços executados em cruzados congelados. A empresa ficou estrangulada. Além disso, enfrentou a abertura dos céus brasileiros para as empresas estrangeiras, mais enxutas e mais competittivas.

Bem, o resultado dessa ação, se positivo, é a única esperança que têm, os ex-trabalhadores da Varig, os aposentados e os pensionistas do Aerus, de receber seus direitos trabalhistas e de ter de volta o valor real de suas pensões. Esta ação já deveria ter sido jugada pelo Supremo no ano passado, porém o Governo Federal acenou com uma possibilidade de um Acordo que beneficiaria tanto o governo quanto os credores da Varig. Infelizmente, tratou-se de mais uma procrastinação de parte do Gov. Federal, visto que um ano inteiro se passou para no final do ano o Governo declarar a impossibilidade de realizar o tal Acordo.

Mais de 300 aposentados já faleceram sem ver resolvida essa questão.

Muitos aposentados são idosos com mais de 80 anos, e enfrentam dificuldades financeiras cada vez maiores, e vendo sua saúde debilitando a cada dia.

A ação da defasagem tarifária está parada no STF, aguardando o pronunciamentro da Ministra Carmen Lúcia.

A alta faixa etária dos aposentados do Aerus exige uma resposta urgente do STF, porém esta não vem com a velocidade que o caso requer, pois tantas vidas já se perderam, e os que ainda sobrevivem estão com suas pensões e benefícios reduzidos, ou quase acabando.

Pedimos, portanto, a atenção desse programa para estas questões urgentes que envolvem idosos em desamparo, ex-trabalhadores demitidos sem receber indenização e que acreditaram no sistema, porém foram completamente ignorados exatamente por quem deveria defendê-los.

Todas as situações desencadeadas com a venda da Varig são muito mais amplas do que a situação acima exposta, abrangendo todo setor aéreo. Mas restrinjo-me a esta explicitada acima, que é a questão da sobrevivência e a injustiça de que foram vítimas os funcionários, aposentados e pensionistas da Varig, que do dia para a noite se viram espoliados de seu trabalho, de sua dignidade, de seu valor.

Coloco-me a disposição para maiores esclarecimentos sobre o caso, inclusive para estabelecer contato com representantes de Associação de Pilotos, de Mecânicos de Voo, de Comissários e de Aeroviários da Varig, que possuem informações mais detalhadas e documentadas sobre o assunto.

Contando com vosso interesse pelo assunto, despeço-me, não sem antes novamente parabenizá-los pelo Programa CQC, o qual assisto regularmente pela Band.

Um grande abraço a todos!

Denise Diedrich

Ex-Comissária de Voo da Varig, por 21 anos.

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